segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nota da APEERJ sobre ofensas proferidas pelo Presidente da FME de Niterói

Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 2011.

A Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de Janeiro, entidade que em 2011 cumpre 30 anos de existência, vem a público manifestar seu estarrecimento diante das ofensas enviadas pelo Presidente da Fundação Municipal de Educação (FME) de Niterói, Sr. Claudio Mendonça, a universidades, professores e associações hispanistas brasileiras, inclusive à APEERJ.

O Sr. Claudio Mendonça, em virtude da notícia de que a FME contrataria o Instituto Cervantes para atividades relacionadas ao ensino de espanhol, recebeu ponderadas manifestações de descontentamento de diversos hispanistas e associações. No entanto, em lugar de uma resposta apropriada para um gestor público, o Presidente da FME preferiu exaltar-se e ofender pessoas e instituições que há décadas trabalham em prol do ensino de espanhol no Brasil.

É inadmissível tal atitude e a APEERJ exige uma retratação.

Diretoria da APEERJ

Biênio 2010-2012

domingo, 30 de janeiro de 2011

Que vergonha, Claudio Mendonça!

Resposta do Presidente da Fundação Municipal de Educação de Niterói aos questionamentos enviados por entidades e hispanistas brasileiros a respeito da contratação de serviços do Instituto Cervantes.



Em 29/01/2011 20:52, claudio mendonça < crmendonca@uol.com.br > escreveu:

Professor, o IC oferecerá em caráter ABSOLUTAMENTE facultativo um curso de idioma espanhol e de cultura espânica aos sábados, para os alunos e eventuais professores de qualquer disciplina que, repito, assim o desejarem. Nossos professores concursados cuidarao do ensino regular da matriz curricular obrigatória e não costumam ter disponibilidade pra este tipo de atividade em finais de semana. TODAS as horas livres de nossos mestres serão adquiridas para oferecer - no contraturno - as ações de reforço escolar ou reorientação de aprendizagem como se diz em "pedagogês". É apenas e tão somente isso. Esta havendo um movimentozinho conta o IC por parte de nossa aristocracia acadêmica que não abre mão do monopólio da (sofrível) fomação de professores em meu país e não pretendo entrar no mérito desta questão. Com a UFF estamos contratando o mesm o serviço, mas poderíamos estar nos valendo da Cultura Inglesa ou Aliança Francesa, todavia a Universidade parece ser mais em conta e promete qualidade. Se o serviço não apresentar a tal qualidade que esperamos pretendo reestudar a possibilidade de buscar às instituições a que me referi acima, afinal eu quero para os filhos das pessoas pobres do meu país o mesmo que desejo e ofereço para meus filhos. Imagino que o Governo da Espanha tenha expertise para nos ajudar com um curso de idiomas voltado para conversação para os alunos que o desejem, repita-se à exaustão, esta atividade de forma mais lúdica aos sábados e ainda com uma forte matriz da riquíssima cultura espanhola. A orientação partiu nada menos que do Consulado da Espanha, ou seja da representação governamental do país. Acho, sinceramente, que a Espanha entende de cultura espânica e fico imaginando se uma cidade espanhola que queira introduzir um cursinho de portugês brasileiro para os estudantes com a cultura de meu país, nossa música, arte e brasilitude deveria procurar o governo brasileiro ou os clarividentes Doutores da Universidade de Madrid. Mas acredito que não passe de uma mistura de ansiedade por interesses ameaçados e um pouco de mal entendido por presunção de que vamos oferecer FC pelo Cervantes o que ainda nem foi objeto de discussão e nem será este ano, afinal os profesdores foram concursados mês passado e, quero crer, estão aptos e atualizados para o trabalho. Tenha um bom final de semana e permita-me exercer a função de gestor do sistema público municipal de educação da cidade onde moro à décadas e onde meus filhos nasceram. Missão esta que me foi conferida com a legitimidade da delegação do Prefeito democraticamente eleito pelo sistema de meu país.
Claudio Mendonça
PS1.: Como pode ver as funções estão dentro da missão institucional do IC. Peço-lhe o favor de divulgar, se possível, aos seus pares o conteúdo deste email na intenção de que, feito os esclarecimentos, voltem às suas relevantíssimas atividades acadêmicas

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Carta aberta à Fundação Municipal de Niterói

ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CNPJ 30.114.920/0001-00

Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2011.

Exma. Sra. Maria Ines Azevedo de Oliveira, Secretária de Educação de Niterói,

Exmo. Sr. Claudio Mendonça, Presidente da Fundação Municipal de Educação

de Niterói,

Sem grande surpresa, mas com indignação, recebemos a notícia de que foi, ou está em vias de ser assinado, um convênio ou contrato entre a Fundação Municipal de Educação (FME) de Niterói e o Instituto Cervantes (IC), por meio do qual se conferirá ao último a incumbência de capacitar os recém empossados docentes de espanhol no referido município, além de, futuramente, ofertar cursos aos alunos da rede. Tais informações foram anunciadas na primeira reunião da FME com os novos professores de espanhol de Niterói, à qual compareceram também representantes do Instituto Cervantes. A concessão de um espaço privilegiado ao IC, em tão importante momento, revela uma significativa conotação política e nos leva a questionar a natureza da relação estabelecida entre tais instituições.

Parece-nos um contrassenso que seja facultada a formação continuada de nossos professores a uma instituição, como o Instituto Cervantes, que não é universidade ou instituto superior de educação, uma vez que temos universidades no estado e fora dele que podem fazê-lo e algumas, inclusive, com sete décadas de experiência na formação de docentes de espanhol. A título de exemplo, atualmente, no próprio município de Niterói, estão sendo oferecidos cursos de formação continuada para professores de espanhol das redes públicas, totalmente gratuitos, financiados por um convênio firmado entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e o Ministério da Educação (MEC).

De forma alguma estamos rechaçando a parceria com instituições estrangeiras que desejem estabelecer um diálogo efetivo e de qualidade com as nossas instituições de ensino. No entanto, entendemos que o interesse do Instituto Cervantes pelo ensino de espanhol no Brasil, em muitos casos, chega a configurar-se como um desrespeito ao trabalho dos docentes que dedicam suas atividades acadêmicas ao hispanismo.

Em ocasiões anteriores, na procura por dar relevo aos seus cursos livres, muitas vezes tentou igualá-los às licenciaturas, subestimando a nossa capacidade de formação docente. Estamos certos de que o Instituto Cervantes não deseja apenas estabelecer parcerias, visando somente ao bem da formação de nossos alunos da rede pública, há propósitos comerciais claros que alicerçam suas ações. Não se pode sobrepujar o trabalho árduo que há 70 anos os hispanistas brasileiros vêm desenvolvendo.


Além disso, vale salientar que a referida instituição possui duas condenações na justiça brasileira: uma por propaganda enganosa, exatamente por anunciar seu diploma de proficiência como reconhecido pelo MEC para fins de obtenção da Complementação Pedagógica em Letras-Espanhol; outra por violação da legislação trabalhista brasileira, tendo em vista a contratação de professores por intermédio de cooperativas e sem os devidos direitos garantidos pela CLT.


Muitas outras questões nos preocupam e, por esta razão, já nos manifestamos contra “acordos” semelhantes propostos pelo Instituto Cervantes, dentre elas o fato de que as aulas em cursos livres não condizem com a proposta de ensino de espanhol como língua estrangeira em nossas escolas, conforme é possível comprovar nos documentos norteadores da educação brasileira, como PCN e OCEM. Nestas, é imprescindível dispensar séria atenção à heterogeneidade cultural e linguística, à educação intercultural, à promoção da autonomia e da co-responsabilidade social de nossos alunos.


A língua espanhola deve ser, portanto, uma forte aliada à formação cidadã, que no ambiente escolar encontra espaço mais do que propício ao seu desenvolvimento. Conforme se acentua nas OCNEM (2006, p. 131), o ensino de espanhol na escola brasileira “precisa, enfim, ocupar um papel diferenciado na construção coletiva do conhecimento e na formação do cidadão.” Como se vê, nas salas de aula, deve-se ir muito além do ensino de estruturas linguísticas desvinculadas da interação, da história política e sócio-cultural de seus partícipes.


Acreditamos que o mencionado convênio ou contrato se ancore também em antiquadas e equivocadas crenças da supremacia de saberes europeus e consideramos que, como educadores, não podemos dar vez a esse princípio. Afinal, cabe-nos refletir: que lugar está reservado aos professores brasileiros de espanhol de escolas e universidades públicas e privadas? Seremos apenas implementadores de métodos idealizados por aqueles que pouco ou nada sabem acerca da realidade de nosso alunado? Em que medida a questão da produção de sentidos na interação, a diversidade, o interculturalismo e a formação cidadã farão parte da capacitação oferecida pelo IC? Essa instituição tem respaldo acadêmico para dar conta de tal desafio? Que pesquisas desenvolveram sobre o assunto? Há pesquisas que comprovem que seus materiais didáticos são apropriados a esses fins?

Considerando todo o exposto, solicitamos:

1) uma audiência para que sejam esclarecidas as questões suscitadas pela notícia desse convênio ou contrato entre a FME e o Instituto Cervantes;

2) a divulgação dos textos firmados, considerando tratar-se a FME de uma instituição pública que, como tal, tem a obrigação legal de manter a transparência em suas atividades;

3) as informações a respeito do processo licitatório realizado para a contratação do Instituto Cervantes.

A Associação de Professores de Espanhol do Rio de Janeiro (APEERJ) espera uma rápida resposta, tendo em vista a gravidade da situação que se apresenta e a importância da educação pública para a nossa sociedade.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Diretoria APEERJ

(2010-2012)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Espanhol na escola é coisa séria, FME de Niterói!

Prezada Fundação Municipal de Educação (FME) de Niterói,

O ano de 2010 terminou com excelentes notícias para o espanhol na nossa cidade: um novo concurso para docentes da área foi convocado e, finalmente, a disciplina seria implantada na rede em 2011, após alguns tropeços anteriores. Nós, hispanistas brasileiros, especialmente os fluminenses, estavámos felizes com mais essa conquista.

No entanto, o ano letivo de 2011 sequer começou e nós, professores do Rio de Janeiro, recebemos uma péssima notícia: você assinou ou está em vias de assinar um convênio com o Instituto Cervantes (IC). Soubemos, FME, que o Diretor do IC esteve hoje em uma reunião com você, com a presença dos professores recém empossados. Soubemos que foram divulgadas as seguintes notícias: o Cervantes capacitará esses docentes de espanhol e, no futuro, planeja-se a oferta de cursos oferecidos pelo Instituto aos alunos da rede.

O que é isso, Fundação Municipal de Educação de Niterói? Você não sabe que a Universidade Federal Fluminense, com a qual o município de Niterói tem laços profundos, está aqui ao lado? E mais, FME, a UFF está neste momento oferecendo cursos de formação continuada para professores de espanhol das redes públicas totalmente gratuito e financiado por um convênio com o Ministério da Educação! Há poucos dias, FME, escrevi à sua coordenadora de Língua Estrangeira para oferecer os meus préstimos e os das minhas instituições para qualquer atividade relativa ao espanhol. Será, FME, que você acha que sai mais bonito na foto para a imprensa um convênio com uma instituição estrangeira que com uma universidade brasileira ou com uma associação de professores? É possível.

O que sei, FME, é que nossos estudantes perdem. Nossos professores perdem. Nossas universidades perdem. Perdem porque quem vai capacitar os professores de Niterói é uma instituição que não é de ensino superior ou sequer de ensino regular. Uma instituição que desconhece a realidade da educação brasileira. No Brasil, FME, e até mesmo em Niterói, lá no Campus do Gragoatá, a uns 3 km da sua sede, há professores de espanhol interessados e dispostos a colaborar. Professores que conhecem as escolas brasileiras, que possuem formação em nível de mestrado e doutorado, pesquisadores que há anos trabalham arduamente pelo espanhol neste país. Fora do Campus do Gragoatá também há muitos profissionais da área com os mesmos requisitos e que poderiam colaborar, FME. Há também muitos outros professores de espanhol por este país afora, que podem não ter tantos títulos, mas que conhecem as nossas escolas, os nossos alunos. Eles foram, inclusive, aprovados no recente concurso para a sua rede de escolas. Garantimos que eles têm mais a ensinar sobre espanhol no Brasil ao Cervantes que o Cervantes a eles.

Espanhol na escola é coisa séria, FME!

Atenciosamente,

Luciana Freitas

Professora de Espanhol